domingo, 25 de julho de 2010

Parnasianismo no Brasil

Na segunda metade do século XIX, o contexto sociopolítico europeu mudou profundamente. Lutas sociais, tentativas e revolução, novas idéias políticas, científicas. O mundo agitava-se e a literatura não podia mais, como no tempo do Romantismo, viver de idealizações, do culto do eu e da fuga à realidade. Era necessária uma arte mais objetiva, que atendesse ao desejo do momento: o de analisar, compreender, criticar e transformar a realidade. Como resposta a essa necessidade, nascem quase ao mesmo tempo três tendências anti-românticas na literatura, que se entrelaçam e se influenciam mutuamente: o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo.
Diferentemente do Realismo e do Naturalismo, que se voltavam para o exame da realidade, o Parnasianismo representou na poesia o retorno à orientação clássica, ao princípio do belo na arte, à busca do equilíbrio e da perfeição formal.

Os parnasianos acreditavam que o sentido maior da arte reside nela mesma, em sua perfeição, e não no mundo exterior.
O Parnasianismo no Brasil surgiu na década de 80 do século XIX. Depois da revolução romântica, que impôs novos parâmetros e valores artísticos, surgiu em nosso pais um grupo de poetas parnasianos que desejava restaurar a poesia clássica, desprezada pelos românticos.

Os parnasianos achavam que certos princípios românticos, como a busca de uma poesia mais acessível, da paisagem nacional, de uma língua brasileira, dos sentimentos, tudo isso teria feito perder as verdadeiras qualidades da poesia. Em seu lugar propõem, então, uma poesia objetiva, de elevado nível vocabular, racionalista, perfeita do ponto de vista formal e voltada a temas universais.
Apesar de contemporâneos, o Parnasianismo difere profundamente do Realismo e do Naturalismo. Enquanto esses movimentos se propunham a analisar e compreender a realidade social e humana, o Parnasianismo se distancia da realidade e se volta para si mesmo. Defendendo o princípio da “arte pela arte”, os parnasianos achavam que o objetivo maior da arte não é tratar dos problemas humanos e sociais, mas alcançar a “perfeição” em sua construção: rimas, métrica, imagens, vocabulário seleto, equilíbrio, controle das emoções, etc.

Distanciados dos problemas sociais, alguns parnasianos dedicam-se a tematizar em seus poemas a própria arte. Por exemplo, descrevem com precisão obras de arte, como vasos, peças de escultura, lápides tumulares, bordados, etc. Nesse caso, trata-se de uma restrição ainda maior do princípio da “arte pela arte”, que se transforma em “arte sobre a arte”.

A influência clássica

A origem da palavra Parnasianismo associa-se ao Parnaso grego, segundo a lenda, um monte da Fócida, na Grécia central, consagrado a Apolo e às musas. A escolha do nome já comprova o interesse dos parnasianos pela tradição clássica. Acreditavam que, assim, estariam combatendo os exageros de emoção e fantasia do Romantismo e, ao mesmo tempo, garantindo o equilíbrio desejado, por se apoiarem nos modelos clássicos.

Contudo a presença de elementos clássicos na poesia parnasiana não ia além de algumas referências a personagens da mitologia e de um enorme esforço de equilíbrio formal. Pode-se afirmar que não passava de um verniz que revestiu artificialmente essa arte, como forma de garantir-lhe prestígio entre as camadas letradas do público consumidor brasileiro.

A “Batalha do Parnaso”

As idéias parnasianas já vinham sendo difundidas no Brasil desde os anos 70 do século XIX. Contudo foi no final dessa década que se travou no jornal Diário do Rio de Janeiro uma polêmica literária que reuniu, de um lado, os adeptos do Romantismo e, de outro, os adeptos do Realismo e do Parnasianismo. O saldo da polêmica, que ficou conhecida como Batalha do Parnaso, foi a ampla divulgação das idéias do Realismo e do Parnasianismo nos meios artísticos e intelectuais do país.

A primeira publicação considerada parnasiana propriamente dita é a obra Fanfarras (1882), de Teófilo Dias. Entretanto caberia a Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, Olavo Bilac, Vicente de Carvalho e Francisca Júlia o papel de implantar e solidificar o movimento entre nós, bem como definir melhor os contornos de seu projeto estético.

O Parnasianismo se firmou no Brasil na década de 80 do século XIX. Nesse momento se davam as lutas sociais decisivas pela abolição da escravatura e pela república.

A linguagem da poesia parnasiana

A poesia parnasiana pretende ser universal. Por isso utiliza uma linguagem objetiva, que busca a contenção dos sentimentos e a perfeição formal. Seus temas são, igualmente, universais: a natureza, o tempo, o amor, objetos de arte e, principalmente, a própria poesia.

O poeta modernista Oswald de Andrade, em seu Manifesto da Poesia Pau-Brasil, desfere várias críticas aos poetas parnasianos, dentre as quais a rigidez formal excessiva e a falta a liberdade no ato da criação poética.

Cronologia

Início: 1882, publicação do livro Fanfarras, de Teófilo Dias.
Término: 1893, início do Simbolismo no Brasil.

Principais escritores:

Olavo Bilac

Raimundo Correia

Alberto de Oliveira

Vicente de Carvalho

Características do Parnasianismo

-Formas poéticas tradicionais: com esquema métrico rígido, rima, soneto.
-Purismo e preciosismo vocabular, com predomínios de termos eruditos, raros, visando à máxima precisão e de construções sintáticas refinadas. Escolhe as palavras no dicionário para escrever o poema com palavras difíceis.

-Tendência descritivista, buscando o máximo de objetividade na elaboração do poema e assim separando o sujeito criador do objeto criado.

-Destaque ao erotismo e à sensualidade feminina.

-Referências à mitologia greco-latina.

-Esteticismo, a depuração formal, o ideal da “arte pela arte”. O assunto não é importante, o que importa é o jeito de escrever.

-A visão da obra como resultado do trabalho, do esforço do artista, que se coloca como um ourives que talha e lapida a jóia.

-Transpiração no lugar da inspiração romântica. O escritor precisa trabalhar muito, suar a camisa, para fazer uma boa obra. Poeta é comparado ao ourives.

Biografia


Olavo Bilac

Um dos mais notáveis poetas brasileiros, prosador exímio e orador primoroso, nasceu e morreu no Rio de Janeiro, espectivamente, em 1865 e 1918. Aluno da Faculdade de Medicina até o quinto ano, depois de brilhante concurso que ali fez para interno, e apesar do auspicioso futuro que todos lhe auguravam, desistiu do curso médico para tentar o de direito em São Paulo. Atraído, porém, pela vida fluminense, voltou ao Rio estreiando, com grande êxito, na imprensa literária.

A irradiação do seu nome foi rápida, e fulgurou com a publicação de Poesias (incluindo Panóplias, Via Láctea e Sarças de Fogo - 1888). Foi um dos mais ardorosos propagandistas da abolição, ligando-se estreitamente a José do Patrocínio. Em 1900, partiu para a Europa como correspondente da publicação Cidade do Rio. Daí em diante, raro era o ano em que não visitava Paris.

Exerceu vários cargos públicos no estado do Rio de Janeiro e na antiga Guanabara, tendo sido inspetor escolar, secretário do Congresso Panamericano e fundador da Agência Americana. Foi um dos fundadores da Liga da Defesa Nacional (da qual foi secretário geral), tendo lutado pelo serviço militar obrigatório, que considerava uma foram de combate ao analfabetismo. Conferencista de platéias elegantes, sua obra tornou-se leitura obrigatória, sendo declamado nos círculos literários.

Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, na cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.

Considerado o maior nome parnasiano brasileiro, foi bastante influenciado pelos poetas franceses. Suas poesias revelam uma grande emoção, nada típica dos parnasianos, um certo erotismo e influência marcante da poesia portuguesa dos séculos XVI e XVII. A correção da linguagem, o rigor da forma e a espontaneidade são as principais características de seus versos.

Além de Poesias também publicou Crônicas e Novelas, Conferências Literárias, Ironia e Piedade, Bocage, Crítica e Fantasia, e, em colaboração, Contos Pátrios (infantil), Livro de Leitura, Livro de Composição, Através do Brasil (os últimos três, pedagógicos), Teatro Infantil, Terra Fluminense, Pátria Brasileira, Tratado de Versificação, A Defesa Nacional (coleção de discursos), Últimas Conferências e Discursos, Dicionário Analógico (inédito) e Tarde (póstuma, coleção de 99 sonetos).

Seu volume de Poesias Infantis, encomendado pela Livraria Francisco Alves, é uma coleção de 58 poemas metrificados falando sobre a natureza e a virtude. Segundo suas próprias palavras, "era preciso achar assuntos simples, humanos, naturais, que, fugindo da banalidade, não fossem também fatigar o cérebro do pequenino leitor, exigindo dele uma reflexão demorada e profunda".

É autor do Hino à Bandeira Nacional.

Raimundo Correia (1860-1911)

Raimundo da Mota Azevedo Correia nasceu em 1859, no Maranhão.

Formado em Direito pela Faculdade São Francisco, onde entrou em contato com as idéias positivistas e republicanas. Paralelamente à literatura, dedicou-se à diplomacia. Morreu na França, em 1911.

Obras:

• Primeiros Sonhos

• Sinfonias

• Versos e Versões

• Aleluias e Poesias

Autor de uma poesia filosofante, pessimista, que tem como tema fundamental a passagem do tempo, a transitoriedade da vida. “No entanto, esse aspecto é nele muito desigual, com um peso negativo de falsa profundidade, na linha sentenciosa habitual aos parnasianos. O melhor da sua obra está nalgumas peças em que traduziu o mais profundo desencanto, seja do ângulo subjetivo, seja do ângulo exterior; ou em certos poemas nutridos de uma percepção fina e encantadora da natureza, aliada à mais efetiva magia versificatória...” (Antônio Cândi-do e J. Aderaldo Castello. Presença da Literatura Brasileira. Do Romantismo ao Simbolismo. São Paulo, Difel, 1966)

Alberto de Oliveira (1857-1937)

Antônio Mariano Alberto de Oliveira nasceu em Palmital de Saquarema, Rio de Janeiro, em 1857. Exerceu funções públicas e o magistério. Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, foi aclamado, em 1924, Príncipe dos Poetas Brasileiros. Morreu em 1937.

Considerado o poeta parnasiano mais disciplinado, mais apegado às regras e às características do estilo, estreou com Canções Românticas, livro romântico que antecipa sua adesão ao Parnasianismo. Depois publicou Meridionais e Versos e Rimas, estes já claramente parnasianos.

Vicente de Carvalho ( 1866-1924)

Vicente Augusto de Carvalho nasceu em Santos, em 1866. Formado em Direito pela Faculdade de São Francisco, dedicou-se à política, à magistratura e ao comércio. Morreu em 1924.

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